Pesquisadores procuram novas espécies com diferentes potenciais biotecnológicos
Pesquisadores que integram o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Leveduras (INCT Leveduras), acompanhados de analistas ambientais do Instituto Chico Mendes (ICMBio), fizeram sua primeira saída a campo desde o início do projeto, em janeiro de 2023. A equipe liderada pelo biólogo Sérgio Luiz Alves Júnior, da Universidade Federal da Fronteira Sul, em Santa Catarina, esteve no Parque Nacional das Araucárias, unidade de conservação nos municípios de Passos Maia e Ponte Serrada, com o objetivo de coletar amostras de água, solo e matéria vegetal em decomposição em busca de novas leveduras.
De acordo com o biólogo Sérgio Luiz, professor associado do Laboratório de Bioquímica de Leveduras da UFFS, foram coletadas amostras de cascas dos troncos e solo de 15 pontos específicos. Elas serão utilizadas para isolamento e caracterização de novas espécies de leveduras. No Brasil, “desconheço leveduras típicas exclusivas dessa região onde foi feita a coleta”, revelou Sérgio Luiz, que é doutor em biotecnologia.
A região escolhida para o primeiro trabalho de campo do INCT Leveduras é uma das maiores em área conservada de Floresta Ombrófila Mista, também conhecida por Mata de Araucárias, com significativa distância de regiões modificadas pela intervenção humana. Sérgio Luiz explica tratar-se de uma vegetação própria da porção sul do bioma Mata Atlântica. Ele revelou que “nenhum pesquisador integrante do INCT Leveduras, até o momento, trabalhou com o isolamento de leveduras deste ambiente”. A proposta do grupo é cobrir todos os biomas brasileiros.
A principal hipótese dos pesquisadores ao entrar nessa área é de que, por sua diversidade, novas espécies, típicas da região, possam ser descobertas. “Além disso elas podem apresentar, em maior ou menor medida, diferentes potenciais biotecnológicos”, afirmou Sérgio Luiz. Ele conta que, na Argentina, já foram isoladas leveduras de Araucaria araucana. “Lá, as leveduras isoladas mostraram-se úteis à produção de Cidra”, revelou. Ele ressalta que “nossos isolamentos estão sendo realizados a partir de outra espécie do mesmo gênero de gimnosperma: Araucaria angustifólia”, mas que “a ideia é valorizar e valorar a biodiversidade”.
A próxima etapa do trabalho é caracterizar bioquimicamente as leveduras e identificá-las taxonomicamente. As amostras foram enviadas ao Laboratório de Biodiversidade, Taxonomia e Biotectnologia de Fungos do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, onde também serão processadas utilizando uma variedade de meios de culturas, visando isolar leveduras com potencial biotecnológico.
Esta coleta representa a primeira parceria entre o grupo de pesquisa do professor Sérgio Luiz e o do professor Carlos Rosa, no âmbito do INCT Leveduras, por este último coordenado, visando o conhecimento da biodiversidade microbiana em ambientes florestais brasileiros com alta diversidade biológica. A expectativa é de que os resultados publicáveis já devam surgir nos próximos meses.
PARNA das Araucárias
O Parque Nacional das Araucárias constitui-se por uma área de 12.841 hectares, nos quais se destacam os remanescentes de Floresta com Araucárias, formação vegetal da Mata Atlântica. A Mata de Araucárias é uma formação vegetal dentro do bioma Mata Atlântica extremamente ameaçada, possibilitando a realização de pesquisas cientificas, o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, e o turismo ecológico
Floresta Ombrófila Mista
A Floresta Ombrófila Mista, também conhecida como Mata de Araucárias, caracteriza-se por um clima subtropical, com chuvas regulares e estações relativamente bem definidas ao longo do ano. No Brasil, os relevos são formados, em sua maior extensão, por escarpas de estratos e planaltos que declinam suavemente em direção a oeste e noroeste. É um dos ecossistemas mais ricos em relação à biodiversidade de espécies animais, contando com indivíduos endêmicos, raros, ameaçados de extinção, espécies migratórias, cinegéticas e de interesse econômico da Floresta Atlântica e Campos Sulinos. Apresenta em sua composição florísticas espécies como a imbuia, o sassafrás, a canela-lageana, além de diversas espécies conhecidas por canelas. Se destacam também a erva-mate e a caúna. Diversas espécies de leguminosas como o jacarandá e de e mirtáceas como guabiroba e pitanga também são abundantes na floresta com araucária, associadas também à coníferas como o pinheiro-bravo.
Tal diversidade, segerem estudos científicos, indicam a importância das reservas florestais, a capacidade dos fragmentos de persistir mantendo uma parte da biodiversidade das FOM e a necessidade de regulamentar e proteger os fragmentos nas propriedades rurais.
Redação: Dayse Lacerda